JULGAMENTO NO STF

STF torna Bolsonaro 1° ex-presidente réu por golpe

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ANTONIO AUGUSTO/STF

A maioria da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) votou nesta quarta-feira (26) para que o ex-presidente Jair Bolsonaro se torne réu pelos crimes de golpe de Estado e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito.

É a primeira vez que um ex-presidente eleito é colocado no banco dos réus por crimes contra a ordem democrática estabelecida com a Constituição de 1988. Esses tipos de crime estão previstos nos Artigos 359-L (golpe de Estado) e 359-M (abolição do Estado Democrático de Direito) do Código Penal brasileiro.

“Não há então dúvidas de que a procuradoria apontou elementos mais do que suficientes, razoáveis, de materialidade e autoria para o recebimento da denúncia contra Jair Messias Bolsonaro”, disse Moraes, relator do caso no Supremo, referindo-se à acusação apresentada no mês passado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.

O relator votou para que Bolsonaro também responda, na condição de réu no Supremo, aos crimes de organização criminosa armada, dano qualificado pelo emprego de violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. Se somadas, todas as penas superam os 30 anos de cadeia.

Até o momento, seguiram o relator os ministros Flávio Dino e Luiz Fux. Ainda devem votar a ministra Cármen Lúcia e o ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma, colegiado composto por cinco dos 11 ministros do Supremo e onde tramita a denúncia sobre golpe.

Em seu voto, Dino buscou garantir que as defesas terão oportunidade de construir suas próprias narrativas, que serão levadas em consideração no momento adequado. “Justiça é diferente de justiçamento”, disse ele.

“Temos que aferir a conduta, uma a uma, independentemente do julgamento moral que tenhamos sobre a pessoa”, assegurou.

Fux destacou que o voto do relator detalhou ponto a ponto as condutas e crimes imputados a Bolsonaro e outros sete aliados. “Em relação à autoria e a materialidade, a procuradoria e o ministro Moraes legaram à turma e à sociedade tudo quanto nós precisávamos saber para o recebimento da denúncia”.

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O ministro ressalvou, contudo, que durante o processamento da ação penal deverá apresentar divergências em relação ao cálculo das penas. “Confesso que em determinadas situações me deparo com uma pena exacerbada”, afirmou.

Acusação

Conforme a acusação da PGR, Bolsonaro tinha conhecimento do plano intitulado Punhal Verde Amarelo, que continha o planejamento e a execução de ações para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

A procuradoria também garante que o ex-presidente sabia da minuta de decreto com o qual pretendia executar um golpe de Estado no país. O documento ficou conhecido durante a investigação como “minuta do golpe”.

Em seu voto, Moraes afirma “não haver dúvidas” sobre conhecimento de Bolsonaro acerca do documento:

“Não há dúvida que o denunciado Jair messias Bolsonaro conhecia, manuseava e discutiu sobre a minuta de golpe”.

Qual a implicação desse conhecimento para o cometimento dos crimes imputados pela PGR deve ser ainda verificada durante a instrução da ação penal, disse Moraes. “A interpretação do fato vai ocorrer durante a instrução penal.”

No voto, Moraes frisou que o plano de Bolsonaro começou a ser posto em prática em julho de 2021, quando em uma transmissão ao vivo pela internet o ex-presidente “atacou as urnas eletrônicas sem nenhum fundamento e sem apresentar nenhum elemento concreto”.

O objetivo seria insuflar aliados e criar o clima para que Bolsonaro permanecesse no poder mesmo com derrota na tentativa de reeleição, em 2022, conforme narra a denúncia, destacou Moraes.

A denúncia “aponta o aumento da intensidade da agressividade de forma progressiva, integrando a execução de seu plano” autoritário, destacou Moraes.

Demais réus

A maioria da Primeira Turma votou ainda para que mais sete aliados de Bolsonaro se tornem réus na mesma ação penal sobre o golpe. Todos compõem o chamado “núcleo crucial” da denúncia. São eles:

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Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
Walter Braga Netto, general de Exército, ex-ministro e vice de Bolsonaro na chapa das eleições de 2022;
Augusto Heleno, general do Exército e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência – Abin;
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de segurança do Distrito Federal;
Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
Paulo Sérgio Nogueira, general do Exército e ex-ministro da Defesa;
Mauro Cid, delator e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Detalhamento

Em um voto longo, com mais de uma hora e 40 minutos de duração, Moraes recorreu a vídeos, tabelas e estatísticas para rebater cada uma das oito defesas. Ele começou por destacar a violência dos atos golpistas do 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas e depredadas por apoiadores de Bolsonaro.

Um vídeo com cenas da “batalha campal”, como descreveu o ministro, foi colocado durante a sessão da Primeira Turma do Supremo, colegiado responsável por julgar o caso. Para rebater as alegações de falta de provas, Moraes apresentou, na parte final de seu voto, uma tabela relacionando dos os atos apontados pela PGR como criminosos e todas as provas documentais colhidas pela Polícia Federal (PF).

Para Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, “descreveu satisfatoriamente os fatos típicos ilícitos, com todas as circunstâncias, dando aos acusados o amplo conhecimento dos motivos e das razões pelas quais foram denunciados”.

O ministro destacou que o julgamento desta quarta tem por objetivo somente verificar se há indícios materiais suficientes para se abrir uma ação penal, na qual as defesas terão a plena oportunidade de construir suas próprias narrativas sobre os fatos apresentados pela acusação.

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BRASIL

Papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio, morre aos 88 anos, no Vaticano

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Vaticano

O Papa Francisco, líder da Igreja Católica, morreu às 7h35 (horário de Roma) desta segunda-feira (21), no Vaticano. O comunicado oficial foi feito pelo Camerlengo da Casa Santa Marta, cardeal Kevin Farrell.

“Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Igreja”, declarou o cardeal.

No domingo (20), Francisco fez sua última aparição pública ao surgir na sacada da Basílica de São Pedro para a tradicional mensagem de Páscoa Urbi et Orbi. “Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos sua alma ao infinito amor misericordioso do Deus Trino”, acrescentou Farrell.

Nascido Jorge Mario Bergoglio, em Buenos Aires (Argentina), Francisco assumiu o papado em 2013, tornando-se o primeiro papa latino-americano da história e também o primeiro jesuíta a ocupar o trono de São Pedro.

Filho de imigrantes italianos, foi o mais velho de cinco irmãos. Antes de entrar para o sacerdócio, formou-se técnico em química. Ordenado sacerdote em 1969, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires e depois cardeal, em 2001, pelo então Papa João Paulo II.

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Ao longo dos 12 anos como líder da Igreja Católica, Francisco buscou aproximar a instituição dos fiéis e enfrentar temas contemporâneos com coragem e sensibilidade. Entre seus atos mais emblemáticos, destacam-se:

  • O pedido constante por cessar-fogo em conflitos armados;
  • A abertura para bênçãos a casais do mesmo sexo;
  • A defesa enfática do meio ambiente e dos povos indígenas;
  • A nomeação histórica de uma mulher para chefiar um dicastério no Vaticano.
  • Em vida, também canonizou o padre José Allamano, reconhecido por um milagre ocorrido na Amazônia brasileira.

Saúde fragilizada nos últimos anos

Nos últimos anos, Francisco enfrentou diversos problemas de saúde, incluindo infecções respiratórias e bronquite, o que o levou a depender de bengalas e cadeira de rodas. Em fevereiro deste ano, ficou internado por quase 40 dias para tratar o quadro.

Apesar da fragilidade física, o pontífice seguiu com sua agenda até recentemente, participando de audiências, reuniões e pronunciamentos em sua residência oficial.

Velório e sucessão

Com a morte do Papa, o Vaticano inicia oficialmente o período de Sé Vacante. O Colégio de Cardeais será convocado para o Conclave, que irá eleger o novo pontífice nos próximos dias. Detalhes sobre o velório e cerimônias fúnebres devem ser divulgados ainda nesta segunda-feira.

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Francisco sucedeu o papa emérito Bento XVI, que renunciou ao pontificado em 2013 e faleceu em janeiro de 2023.

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